Por Eric Nepomuceno (da Carta Maior)
Monterrey está a uns 900 quilômetros ao norte da Cidade do México, e a 200 da fronteira com o Texas. É a capital do estado de Nuevo León, responsável por quase 8% do PIB mexicano. Uma cidade grande, orgulhosa de sua riqueza, de seus mecenas das artes, que sempre se prezou por ser segura, moderna, confiável. Abriu museus com acervos formidáveis, lançou sofisticados jornais de circulação nacional, convocou concursos generosos para patrocinar artistas, enfim, fez de tudo para mudar sua imagem de lugar frio e preocupado apenas com dinheiro e dinheiro. Assim era a cidade que queria ser e parecer mais próxima aos Estados Unidos que ao resto do país. Assim era até cinco anos atrás. Esse tempo acabou: de lá para cá, Monterrey entrou na dura realidade vivida pelo México desde que o presidente Felipe Calderón decidiu declarar guerra aberta contra o narcotráfico. Na quinta-feira passada, Monterrey foi cenário de um ato de brutalidade que chocou o país inteiro. Pouco antes das quatro da tarde uns dez homens desceram de um vistoso Mini-Cooper e de duas vans vulgares e entraram no Cassino Royale, um gigantesco centro de jogatina, onde havia umas trezentas pessoas. Começaram a disparar suas metralhadoras para o alto, enquanto gritavam a todos que saíssem. Em seguida jogaram a gasolina de vários galões sobre mesas de jogo e máquinas traga-níqueis, e puseram fogo. A ação durou menos de três minutos, e foi feita com total desfaçatez: todos sabiam que estavam sendo filmados. Resultado: 53 mortos, dos quais 42 eram mulheres. Sete dos mortos foram calcinados. Os outros morreram asfixiados ou pisoteados. As saídas de emergência estavam trancadas com cadeado. Ninguém acredita que seja possível debelar o prejuízo causado por esse atentado no governo do presidente Felipe Calderón. Na verdade, o México não agüenta mais tanta violência. E, pior, não vê saída. Como resposta ao que chamou de ato terrorista, Calderón decretou luto oficial e nacional de três dias. Em seguida, lançou uma dura acusação contra os Estados Unidos. Disse o que todo mundo sabe: o México trava uma luta inglória, e nesse teatro macabro o país entra com os mortos e o vizinho entra com os consumidores de drogas. Afirmou que enquanto as autoridades dos Estados Unidos não conseguirem controlar o consumo em seu território, nada do que o México fizer terá resultado.
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