domingo, 3 de abril de 2011

Casa do terror em Petrópolis - Na pista dos desaparecidos


Da Revista Época

Ivan Mota Dias, estudante de história, era conhecido como o Comandante Cabanos da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). A VPR era um dos mais agressivos grupos da esquerda armada que combatiam as forças da ditadura militar (1964-1985). Em 15 de maio de 1971, Dias foi preso no Rio de Janeiro por agentes do Cisa, o serviço secreto da Aeronáutica. Sua família o procurou, em vão. Seu corpo nunca apareceu. Documentos oficiais não registram seu destino. A história de Ivan é semelhante à de outros desaparecidos e as dúvidas que cercam seu destino são compartilhadas por outras famílias. Agora, 40 anos depois, surgem pistas. Os corpos de Ivan e de outros 16 desaparecidos podem ter sido enterrados como indigentes, ou com nomes falsos, em covas rasas no cemitério de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Sem alarde, no ano passado, a Secretaria de Direitos Humanos empreendeu durante oito meses a mais sistemática busca por restos mortais de desaparecidos políticos já feita no país. As buscas foram feitas em quatro Estados por uma equipe formada por funcionários da Secretaria, agentes da Polícia Federal, procuradores da República e um consultor externo. Um dos principais focos foi Petrópolis. Pelo menos entre 1970 e 1974, funcionou na cidade um cruel centro de tortura e assassinato mantido pelas Forças Armadas fora de suas instalações oficiais. A Casa da Morte – codinome Codão – ficava na Rua Arthur Barbosa, 668, no bairro Caxambu. Era um cárcere privado mantido pelo Centro de Informações do Exército (CIE). Para ele eram levados os presos que poderiam ser convertidos em agentes duplos. Mas a função primordial era torturar e matar sem deixar rastros. Isso incluiria a norma macabra de picotar os corpos.

As informações levantadas pela missão, no entanto, podem mudar o pouco que se sabe sobre esse episódio sombrio. Ex-militante que foi torturado no DOI-Codi paulista e cumpriu pena na década de 1970, Ivan Seixas foi o consultor da equipe da Secretaria. Há mais de dez anos, ele recebeu uma informação sobre os mortos em Petrópolis. “Procure no cemitério atrás do Quitandinha. Lá você pode achar o pessoal da casa”, disse um intermediário. Quitandinha é um hotel desativado, um dos cartões-postais de Petrópolis. Atrás dele fica o bairro onde está o cemitério municipal.

No ano passado, a partir de uma lista de 30 militantes desaparecidos no Rio e em São Paulo que podem ter passado pela Casa da Morte, Ivan Seixas e a procuradora da República Vanessa Seguezzi vasculharam os livros dos sepultamentos realizados no cemitério de Petrópolis entre 1970 e 1974. Com base em atestados de óbito, verificaram grandes coincidências entre as datas de prisão de 17 militantes e as de enterro de corpos lá sepultados. As circunstâncias e as causas das mortes – fraturas de crânio, tiros, hemorragias, acidentes – também chamaram a atenção. No caso de Ivan Mota Dias, há coincidências com um desconhecido, de “20 e poucos anos”, que foi sepultado no cemitério de Petrópolis no dia 17 de maio de 1971 e cujo cadáver havia sido encontrado na Estrada União Indústria. Dias havia sido preso dois dias antes. O atestado de óbito, assinado pelo médico Alódio Imbroisi, diz que o desconhecido morreu de “hemorragia intracraniana, fratura do crânio, acidente” – causas que podem ser relacionadas à tortura. Sabe-se que Dias passou pela Casa da Morte graças à informação de Inês Etienne Romeu, a única presa a sair com vida daquele matadouro.

Leia a matéria completa, de autoria do jornalista Leandro Loyola, clique aqui.

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