sábado, 7 de abril de 2012

Risco real e imediato - Migração de arrozeiro leva conflito ao Pará

Moradores da ilha de Marajó reclamam que fazendeiro expulso da Raposa/Serra do Sol prejudica ambiente e pesca

Paulo César Quartiero, hoje deputado federal, deixou área em RR após STF decidir pela saída de não índios, em 2009

Tarso Sarraf/Folhapress
Pescador anda de barco próximo às cercas colocadas por fazendeiro que impedem passagem em rio de Cachoeira do Arari
Pescador anda de barco próximo às cercas colocadas por fazendeiro que impedem passagem em rio de Cachoeira do Arari

AGUIRRE TALENTO
ENVIADO ESPECIAL A CACHOEIRA DO ARARI (PA)
FELIPE LUCHETE
DE SÃO PAULO

Expulso da reserva indígena Raposa/Serra do Sol (RR) em 2009, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), o fazendeiro e deputado federal Paulo César Quartiero (DEM-RR) levou o cultivo de arroz para a ilha de Marajó, no Pará, onde enfrenta agora resistência de moradores.

Pescadores, quilombolas, ribeirinhos e trabalhadores rurais temem que a cultura, feita com agrotóxicos e captação de grandes volumes de água, prejudique o ambiente.

Quartiero, 59, introduziu a rizicultura em larga escala no Marajó -região tradicionalmente focada na pesca, pecuária e extrativismo.

Por R$ 4 milhões, ele comprou, em 2010, uma área de 12 mil hectares (equivalente a quase duas vezes a Osasco) no município de Cachoeira do Arari. O filho Renato Quartiero, 27, comanda o negócio.

Após a chegada deles, outros arrozeiros se interessaram pela região. São apoiados pelo prefeito Jaime Barbosa (PMDB), que quer alavancar a economia.

A produção intensificou-se na fazenda dos Quartiero neste ano, e atritos começaram a vir à tona. Um deles é sobre os limites de sua propriedade. As cercas da fazenda foram fincadas dentro de um pequeno rio, afetando a passagem de pescadores.

O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) diz que a área, por ser zona de rio, é da União. A propriedade ocupa as margens da estrada que chega a Cachoeira do Arari. Até o cemitério está dentro da fazenda.

Fonte: Folha de São Paulo (07/04/2012)

No plantio, de agosto a outubro, aviões sobrevoam a área para aplicar agrotóxicos, assustando moradores.

A Agência de Defesa Agropecuária do Estado, porém, fez uma fiscalização em outubro e não encontrou problemas no uso dos defensivos. Nova visita deve avaliar a qualidade das águas.

Os pescadores afirmam ser os mais afetados. Eles são cerca de 6.000 dos 20 mil moradores. Luiz Augusto Martins, 30, reclama. "Neste ano, os peixes não estão aparecendo." A agência diz que não constatou isso na fiscalização.

Seus colegas se queixam de serem impedidos de pescar perto da fazenda. Os comerciantes, porém, estão satisfeitos. O arroz "Acostumado", dos Quartiero, é o mais barato e o mais vendido nos mercados locais.

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