domingo, 29 de abril de 2012

Memória - morre Miguel Portas, líder da esquerda em Portugal


Nasceu em maio e morreu em abril. No mês dos trabalhadores e no da “Revolução dos Cravos”. Para trás, ficaram 53 anos de vida, a maioria dedicados à transformação do mundo, à luta por um mundo melhor. Miguel Sacadura Cabral Portas, mais conhecido na esquerda portuguesa por “Miguel” faleceu nesta terça-feira, na véspera do 25 abril, a data da derrubada do fascismo em Portugal, em 1974.

Uma luta para a qual o Miguel contribuiu muito. Desde jovem, foi um rebelde, tanto era assim que um dia se chateou com a mãe quando esta não lhe deixou ir à missa - ele que na adolescência namorou com a fé católica - e o fechou à chave num quarto. “Fiz aquilo que aprendi nos filmes, passei uma folha de papel debaixo da porta, empurrei a chave e fui para missa”, recordou há anos numa entrevista ao semanário Expresso. E em cima da mesa deixou um recado escrito: “Entre Deus e a mãe, prefiro Deus”. Ela não gostou e quando Miguel voltou da Igreja foi viver com o pai.

Miguel tinha tudo para ser de esquerda, inclusive nasceu no dia Primeiro de Maio. Um dia numa manifestação lhe disse: “Já reparou que no dia do teu aniversário há milhões de pessoas no mundo que saem à rua para protestar?”. Ele ria, com esse sorriso que mexia com toda a cara, abria umas arrugas na bochecha e quase fechava os olhos.

Nasceu numa família de estirpe e abastada. O tio avô foi o almirante Artur Sacadura Cabral, que protagonizou em 1922, com Gago Coutinho, o primeiro vôo entre a Europa e o Atlântico Sul, de Lisboa ao Rio de Janeiro, a bordo do hidroavião “Lusitânia”.

Sua mãe é a escritora e jornalista Helena Sacadura Cabral, uma das mulheres mais lúcidas do mundo intelectual português. O pai, foi um conhecido ativista católico durante a ditadura e hoje é um dos arquitetos portugueses mais importantes. O atual ministro nos negócios estrangeiros de Portugal, Paulo Portas, é o seu irmão mais novo. Todos eles conservadores.

Definitivamente, Miguel não saiu aos seus e costumava dizer que foi por culpa da mãe. Não só por não o deixar ir à missa naquele dia, mas pela estrita educação que lhe impôs quando os pais se divorciaram e ele ficou a viver com ela. Até o dia em que quis ir à missa.

“Eu sou de esquerda porque a minha mãe me proibia de deixar comida no prato, porque tinha de dar aos pobres o melhor presente que recebia no Natal. Fui habituado à renúncia. E também sou de esquerda porque sempre fui um filho difícil, habituado a dizer não. O meu processo de afirmação foi o contra”, definiu-se na referida entrevista.
 
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