domingo, 1 de abril de 2012

Dívida Eterna? François Chesnais desvenda o mistério

Em março de 2011, vimos novamente greves e manifestações em Atenas. Desta vez, os gregos protestaram contra o governo e os novos planos de austeridade e liberalização que acabavam de ser anunciados. Essa era no mínimo a décima vez que eles desciam às ruas, mas a primeira vez em que uma das principais faixas dos manifestantes exigia a anulação da dívida.
É nesse contexto que François Chesnais, economista reconhecido pela profundidade de suas análises sobre o capitalismo financeiro mundial, situa seu novo livro As dívidas ilegítimas: quando os bancos dominam as políticas públicas. “Nós não somos responsáveis pelo que fizeram os governos anteriores”, declarava um dos manifestantes, declaração que não é valida somente para os gregos, como ressalta Chesnais. Ele afirma que “a denúncia da dívida é uma questão política maior que se coloca para muitos países”, inclusive para seu país de origem, a França. Uma questão que interessa àqueles que combatem a regressão social e a injustiça e lutam por uma democracia que não seja uma simples máscara da dominação da oligarquia financeira. Chesnais aborda a problemática da anulação da dívida, não somente de um ponto de vista econômico, mas como uma questão política de fundamento ético.

A reconstituição do poder das finanças

Para uma reestruturação ou anulação das dívidas, assim como sua auditoria, um dos primeiros pontos seria tornar transparente o seu passado. A crise das dívidas soberanas, dos bancos europeus e do euro, apareceu no contexto de crise econômica e financeira internacional, mas a situação atual tem origem em um longo processo de constituição do capital de aplicação financeira do qual os bancos e os governos foram os atores (Chesnais faz uma diferença entre investimento produtivo e aplicação financeira – placement financier). O economista analisa o histórico da evolução do poder das finanças, seus fundamentos estruturais e formas organizacionais atuais, a função dos Bancos Centrais, do Banco Central Europeu, do crédito e da moeda (principalmente o dólar e o euro).
Partindo dos conceitos de Marx e Keynes, ele traça uma definição da diferença entre finança e financiamento da economia. A retomada do poder social e político das finanças começou no final dos anos 1960, depois de um período de controle que se estendeu da crise de 1929 até o início dos anos 1970.
A nova fase das finanças inicia-se em Londres, onde foram criados os primeiros mercados financeiros desregulados que se tornariam o núcleo de uma das melhores redes organizadas de paraísos fiscais do mundo. Foi a base para a acumulação de capital financeiro a partir dos eurodólares e dos petrodólares, que fortaleceu novos credores, abrindo a via para o “poder das finanças”, entendido como o poder “dos investidores institucionais e dos mercados acionários”. Movimento que não seria possível sem o apoio dos governos dos grandes países. Esse capital financeiro também foi alimentado pelos lucros não reinvestidos das firmas multinacionais americanas, que começaram a direcionar seus excedentes para o mercado financeiro, contornando as restrições fiscais que ainda existiam nos EUA, e obtendo lucros maiores do que os proporcionados pelo investimento produtivo do capital.

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