quarta-feira, 30 de março de 2011

Sem fronteiras - Na Líbia, jogos de guerra comandados por Washington

Do site Unamerica (por Juliano Medeiros e Luiz Arnaldo Campos)


O mundo tem acompanhado nas últimas semanas, maravilhado e estarrecido, as rebeliões que tomam conta do mundo árabe e o desmoronamento de regimes tidos como exemplo pelas potências ocidentais. Governos como os de Tunísia e Egito não só eram considerados vitrines da excelente relação do ocidente com o mundo árabe, como também serviam de entreposto para o controle político e militar do imperialismo sobre a região.
A queda destes regimes autoritários e as crises envolvendo outros países como Líbia, Arábia Saudita e Bahrein, combinadas com o surgimento de novas organizações populares, o fracasso da política de submissão aos ditames do capital internacional e o desejo de liberdade dos povos daquela região, tem colocado em alerta o imperialismo. Essa mistura explosiva que já havia alimentado centenas de greves no Egito nos últimos dois anos, mesmo sob a perseguição do governo de Hosni Mubarak, tem se alastrado por outros países, ameaçando o sensível equilíbrio dos interesses das elites nativas e da burguesia internacional no mundo árabe.
Os altos níveis de desemprego, a falta de liberdade política, a corrupção e as violentas medidas contra as oposições, além das diferenças religiosas em cada país, tem alimentado um descontentamento que agora explode em forma de revolta. De repente, o imperialismo colhe as tempestades que plantou, deixando cair por terra a máscara democrática que encobria a violência utilizada contra os povos daquela parte do mundo.

O componente religioso em segundo plano

Em carta endereçada a Engels, onde discute a natureza das sociedades asiáticas, Marx questiona: “Por que a história do Oriente sempre aparece como história das religiões?” Levando em conta os últimos acontecimentos no mundo árabe e as interpretações difundidas no Ocidente por “especialistas” de toda sorte, nunca esta pergunta esteve tão atual. Isto porque, ao contrário do que muitos afirmavam, o componente religioso ocupa um papel absolutamente secundário nas revoltas que tem varrido o norte da África e o Oriente Médio (com exceção do Bahrein), questionando os mitos difundidos pela intelligentsia ocidental, segundo a qual a separação entre política e religião seria impensável no mundo árabe.
Em artigo publicado recentemente, Robert Fisk, o badalado correspondente do jornal britânico The Independent, aborda corretamente a questão, afirmando:
“Mubarak alegou que os islamistas estariam por trás da Revolução Egípcia. Ben Ali disse o mesmo, na Tunísia. O rei Abdullah da Jordânia vê uma sinistra mão escura – da Al Qaeda, da Fraternidade Muçulmana, sempre mão islâmica – por trás da insurreição civil em todo o mundo árabe. Ontem, autoridades do Bahrein descobriram a amaldiçoada mão do Hezbollah, ali, por trás do levante xiita. Onde se lê Hezbollah, leia-se Irã. Por que, diabos, tantos intérpretes cultos, embora impressionantemente antidemocráticos, insistem em interpretar tão mal as revoltas árabes? Confrontados por uma série de explosões seculares – o caso do Bahrein não cabe perfeitamente nessa classificação – todos culpam os islâmicos radicais. O Xá cometeu o mesmo erro, só que ao contrário: confrontado com um óbvio levante islâmico, pôs a culpa nos comunistas”.
Evidentemente, isso não significa que o componente religioso inexista. Ele está presente e mobiliza as massas, na sua maioria muçulmanas, sob a idéia-força de que não há senhor acima de Alá, nem mesmo os ditadores que controlaram a região pelos últimos trinta anos. Porém, as revoltas árabes tem um conteúdo principalmente político e econômico. São rebeliões com características notadamente ocidentais que colocam em xeque a tese utilizada pelo imperialismo em sua “guerra contra o terror”, segundo a qual o mundo árabe representava uma ameaça ao modo de vida da civilização ocidental, com seus extremistas e fundamentalistas empenhados numa guerra impiedosa contra a sociedade judaico-cristã. Ao contrário, o que temos visto são jovens, operários, camponeses, militares, homens e mulheres, cristãos e muçulmanos, lutando lado a lado por emprego, democracia e liberdade, derrubando ditadores até então financiados pelas potências ocidentais em nome de algo muito mais concreto que a salvação noutro mundo.

Revolução?

Se compreender o caráter secular das revoltas é fundamental para se poder afirmar que a saída para o levante popular no norte da África e Oriente Médio é política, e que esta saída deve ser a construção de uma nova ordem econômica e social que liberte a região da ingerência imperialista, iniciando um tempo de liberdade e justiça social, ao mesmo tempo torna-se urgente enfrentar a polêmica em torno do caráter dos eventos que estão em curso. O principal deles, aquele que classifica os levantes populares como “revoluções em sua etapa democrática”, tese que transplanta mecanicamente a leitura aplicada à Revolução Russa de 1917 a todos os processos com potencial revolucionário e busca a partir dela interpretar realidades completamente distintas.

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