quinta-feira, 3 de março de 2011

Memória - Neuton foi exemplo de compromisso com o povo, diz Edmilson


Veja a íntegra do discurso do deputado Edmilson Rodrigues (PSOL), durante a sessão especial em homenagem à memória do ex-deputado estadual e dirigente do PC do B, Neuton Miranda, por ocasião do primeiro ano de seu falecimento.

Senhores Deputados,
Senhoras Deputadas,
Companheiros e companheiras,


Há um pouco mais de um ano, em 20 de fevereiro de 2010, uma notícia nos impactava. Nesse dia, o companheiro Neuton Miranda faleceu após um infarto fulminante na cidade de Belterra, no oeste paraense, onde realizara a entrega títulos de terra aos moradores de diversas comunidades ribeirinhas da região, como parte de seu trabalho à frente da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), no Pará.
Neuton Miranda nasceu em Marabá, mas desde muito jovem se tornou um generoso filho da luta revolucionária. Na década de 60 já era militante do movimento estudantil e integrava a Ação Popular (AP), chegando a ser vice-presidente da UNE. Devido à sua militância revolucionária e por sua firme disposição de resistir à brutalidade do regime dos generais foi implacavelmente caçado pela ditadura de 64, sendo jubilado e impedido de obter nova matrícula por três anos com base no decreto 477/69, que perseguia professores, técnicos e estudantes das universidades que possuíam alguma ligação com movimentos de esquerda.
Em 1972 filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) no qual atuou até o final da sua vida. Com a lei da Anistia ajudou a reconstruir o partido em nosso estado, sobretudo através da firme participação nas lutas camponesas, sindicais e da juventude. Foi membro do Comitê Central e presidente do Comitê Estadual, e nesta condição estabeleceu sólidos laços de respeito e fraternal convivência com o conjunto de forças que atuam no cenário político paraense.
Em 84, às vésperas da votação da Emenda Constitucional Dante de Oliveira, que previa as eleições diretas para presidente, Neuton teve sua casa invadida a mando das forças da reação nos estertores do regime militar. Poucos anos depois, em 1987, quando a mão assassina do latifúndio fuzilou Paulo Fonteles, coube a Neuton prosseguir a luta desse lutador social extraordinário e sensível, que, aliás, também ocupou uma cadeira nesta Casa e soube fazer deste espaço uma trincheira em defesa dos direitos do povo trabalhador da cidade e do campo.
Não pretendo fazer um extensivo relato da trajetória de Neuton, cuja presença foi marcante em praticamente todos os episódios da luta política de nossa terra nas últimas quatro décadas. Apenas preciso recordar dos anos em que compartilhamos a tribuna desta Assembleia Legislativa, sempre travando o bom combate em favor dos que vivem do suor do próprio rosto e que são vítimas da secular exclusão social e política.
Foi assim, por exemplo, que, ainda no inicio dos anos 90, realizei junto com Neuton a primeira comissão de estudos nesta Casa voltada à defesa dos Tembé-Tenetehara, uma extraordinária experiência que deu sua contribuição à sobrevivência deste povo tão sofrido e permamentemente ameaçado pelo latifúndio e pelo agronegócio.
Mas foi durante o Governo do Povo, à frente da Prefeitura Municipal de Belém, que pude estreitar meus laços de fraterna convivência com Neuton. É por isso que reafirmo o meu orgulho de ter podido contar com sua inestimável contribuição como primeiro secretário de habitação da capital e coordenador do riquíssimo processo de mobilização social pelo direito à moradia que realizamos nessa área ao longo de nossa gestão.
A vida de Neuton Miranda, sua luta e seu exemplo de compromisso com o povo continuam como referência indispensável às novas gerações de lutadores. Referenciar seu legado, neste momento, representa um ato de Justiça e, ao mesmo tempo, de reafirmação do sonho de ver construída, em escala planetária, uma sociedade de homens e mulheres livres de todas as formas de opressão e exploração.

Palácio Cabanagem, 03 de março de 2011.

Deputado Edmilson Rodrigues
Líder do PSOL


Foto: OZÉAS SANTOS/ALEPA - DRT-PA 1345

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