quarta-feira, 23 de março de 2011

História Viva - Há mais de 160 anos, em Belém, pontificava o comércio da carne humana



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Não é um anúncio qualquer.
É um retrato, sem retoques, de uma época de crueldade institucionalizada. Emblema de um tempo em que um ser humano era reduzido à condição de objeto, coisa, ferramenta de trabalho, patrimônio a ser explorado - até a morte, inclusive - para o usufruto de uns poucos, que tudo podiam.
Falamos, aqui, da escravidão.
Falamos, aqui, da violência indescritível da escravidão, essa mancha que durante séculos marcou a história brasileira e que plantou suas nefastas raízes tão fundo, mas tão fundo, que até hoje estão aí para que se veja o quanto o Brasil é injusto e inegavelmente desigual.

Mas, voltemos ao anúncio.
Está lá, guardado para sempre, na edição de 22 de janeiro de 1845 do jornal Treze de Maio.
Trata-se de um entre tantos publicados na imprensa do Pará (Grão-Pará, que à época englobava praticamente toda a Amazônia que hoje conhecemos) tratando da fuga de escravos.
Esse, entretanto, não era um escravo qualquer.

Seu nome: Thomaz
Sua idade: mais de 30 anos
Seus sinais particulares: altura regular, robusto, cheio de corpo e retinto, olhos grandes, o semblante sempre alegre, barbado, buço bem serrado (parece soldado pelo bigode), cabelo grande a garofina, nádegas grandes e caídas, pés grandes, ginga com o corpo, quando anda pisa forte
Marcas de tortura: grande cicatriz nas cadeiras, de castigos que teve
Suas habilidades: fala inglês e alemão
Suas vestes: calça e camisa de brim, uma jaqueta de riscadinho roxo, lençol de algodão
De onde veio: de Pernambuco
Para onde vai: buscar a liberdade, custe o que custar.


Fonte: pesquisa do historiador paraense J.M. Bezerra Neto. Facsímile publicado em Migrações na Amazônia, organizadores Cristina Donza Cancela, Rafael Cambouleyron, Belém: Açaí/Centro de Memória da Amazônia/PPGA, 2010.

Um comentário:

  1. É torturante lembrar da ousadia maldita, da pequenez humana, desse vício desgraçado de classificar as pessoas e esquecer o mundo comum nosso: a humanidade. Infelizmente, ser humano é ser falho. Mas... por outro lado, felizmente, como diria Camões "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser..." e estamos escrevendo a nova história neste exato momento deste blog. Ainda mais, felizmente existem olhos como os seus para ajudar a alertar para os estragos da covardia. Para que ela não se repita. Evoé! Díglia.

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