Apolônio de Carvalho, revolucionário e cidadão do mundo, completaria hoje um século de existência.
Leia, abaixo, a última entrevista concedida pelo ex-combatente da Revolução Espanhola e da Resistência Francesa, aos jornalistas Maíra Kubik Mano e Felippe Santos, em 2005, pouco tempo antes de falecer.
As lições do jovem Apolônio de Carvalho
26 de setembro de 2005
Por Igor Felippe Santos e Maíra Kubík Mano (Revistas Caros Amigos)
Militante da ANL (Aliança Nacional Libertadora) na década de 30 e integrante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) até os anos 60; combatente ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e da Resistência Francesa contra a ocupação nazista (1942-1944); fundador do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) em 1968 para levar a cabo a luta armada contra o regime militar; e signatário da primeira ficha de filiação do PT (Partido dos Trabalhadores), em fevereiro de 1980.
São 93 anos de idade e mais de 60 anos de militância comunista do tenente-general Apolonio de Carvalho. Sua trajetória se confunde com a história da luta pela democracia e, particularmente, da esquerda no Brasil. Para a entrevista, 30 minutos. É o que sua companheira Reneé de Carvalho concedeu a equipe reportagem da Revista Sem Terra. Conclusão: somente meia hora para extrair o essencial da experiência de um dos protagonistas políticos do século 20.
No pouco tempo de conversa, Apolonio comentou as lições do último período da história, os avanços da sociedade com a democracia, os desafios da esquerda e a crescente participação das mulheres e da juventude na construção do socialismo. “O socialismo é a forma superior de democracia”, afirma o militante comunista histórico.
Leia a seguir as lições de Apolonio.
Quais as lições que os movimentos de esquerda podem tirar do século 20?
Apolonio de Carvalho - Eu sou um velho militante, não de cultura tão ampla assim nem dotado de capacidade de resumir ou fazer uma espécie de balanço desse quase um século que eu estou vivendo. Continuam as realidades de desigualdade e injustiças sociais, que vem dos séculos anteriores. Estou convidando vocês a fazer um passeio muito longo: desde a minha adolescência. Já nos anos 20 do século passado, sentíamos o protesto do povo contra as arbitrariedades dos governantes, o desprezo pelas reivindicações e os desejos do povo. E sobretudo contra o contraste e as injustiças sociais. Iniciei a minha prática social antes da prática política, através dos movimentos sociais que pregavam a luta pela democracia, pelas liberdades e pela soberania nacional. Nós fomos sempre dominados pela pressão dos monopólios externos e internos. Deve ter sido difícil em outras épocas. Mas particularmente na nossa é difícil quando as contradições sociais se avolumam e se aguçam profundamente. Por exemplo, estamos saindo do século 20, que foi o mais cruel e contraditório de todos os séculos recentes. Foi a mais penosa e contraditória faixa da era contemporânea, que começa na Revolução Francesa. Todos os contrastes aguçados, uma sociedade marcada por duas guerras, terríveis extremos de pressão, genocídios racistas. Marcada por uma série de rebeliões e uma série de ditaduras militares e civis. No Brasil, 43 anos foram marcados por ditaduras militares ou civis. Mesmo assim, nosso povo foi abrindo caminho para a democracia. E os jovens, e depois os menos jovens (os que sendo velhos acreditam que a velhice é apenas a juventude amadurecida), continuamos na luta, que está cheia de promessas.
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