segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cabanagem, 177 anos - Imagens que trazem o passado de volta

Do Blog do Manuel Dutra



Resto de um canhão imperial usado na guerra. Esta peça está na capela da Vila Franca, município de Santarém




No dia 7 de janeiro de 1835, o povo paraense, revoltado com o quadro de miséria e discriminação por parte dos grupos dominantes, derruba e mata o governador Lobo de Sousa, em Belém, arrastando o seu cadáver pelas ruas até o Ver-O-Peso. Era o início da Guerra da Cabanagem.


A miséria e o desprezo pelo povo hoje são muito parecidos com
a situação que reinava no Grâo-Pará após a Independência
Nestas fotos, dois momentos distanciados no tempo. No entanto, são como que faces de uma mesma medalha, também ligadas pelo tempo.

A primeira imagem mostra um pedaço da história do povo perdido e maltratado nas beiradas dos rios desta Amazônia sem fim. A peça é o que restou de um dos muitos canhões do exército imperial brasileiro por ocasião do genocídio da Cabanagem, nos idos de 1837, na localidade de Vila Franca, comunidade situada de frente para o rio Tapajós e com os fundos para o rio Arapiuns, município de Santarém.

Moradores de Cuipiranga, município de Santarém,
exibem balas atiradas pelos canhões do governo
contra os cabanos revoltados
Se esse resto de uma arma poderosa daqueles tempos pudesse falar, quantas pessoas humildes teriam sido estraçalhadas pelo soldado que apertou o gatilho, cumprindo as ordens de liquidar com os cabanos e com todos os outros com eles se parecessem?

O velho e enferrujado canhão está (ou estava, há um ano) abandonado dentro das ruínas da capela de Vila Franca, à espera de alguém para roubá-lo ou de alguém (existe esse alguém?) que apareça para resgatar a peça para o museu (?!) de Santarém.

Assim como está abandonado o canhão pelo desprezo pela história, abandonados continuam hoje os descendentes dos guerreiros que tentaram mudar seu futuro, sem sucesso. É o que mostra a segunda foto. Se um artista do design gráfico fizer um trabalho de envelhecimento dessas imagens, poderá apresentá-las como sendo um desenho do tempo da Cabanagem. Mas não é. É de hoje, assim como era há 177 anos.

Essas casas ficam em Cuipiranga, do outro lado do Arapiuns, onde os cabanos resistiram ao exército do padre Antônio Feijó, então regente governante do Brasil. Daqui, os guerreiros, com mulheres e crianças, atravessaram o imenso rio, passaram por Vila Franca já perseguidos pelos militares, e caminharam cerca de 300 quilômetros pela mata, atravessando outros rios e igarapés até chegar a Pinhel, no médio Tapajós. Ainda resistiram, mas sucumbiram, por fim.

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