Do Blog do Manuel Dutra
Resto de um canhão imperial usado na guerra. Esta peça está na capela da Vila Franca, município de Santarém
No dia 7 de janeiro de 1835, o povo paraense, revoltado com o quadro de miséria e discriminação por parte dos grupos dominantes, derruba e mata o governador Lobo de Sousa, em Belém, arrastando o seu cadáver pelas ruas até o Ver-O-Peso. Era o início da Guerra da Cabanagem.
A miséria e o desprezo pelo povo hoje são muito parecidos com a situação que reinava no Grâo-Pará após a Independência |
A primeira imagem mostra um pedaço da história do povo perdido e maltratado nas beiradas dos rios desta Amazônia sem fim. A peça é o que restou de um dos muitos canhões do exército imperial brasileiro por ocasião do genocídio da Cabanagem, nos idos de 1837, na localidade de Vila Franca, comunidade situada de frente para o rio Tapajós e com os fundos para o rio Arapiuns, município de Santarém.
Moradores de Cuipiranga, município de Santarém, exibem balas atiradas pelos canhões do governo contra os cabanos revoltados |
O velho e enferrujado canhão está (ou estava, há um ano) abandonado dentro das ruínas da capela de Vila Franca, à espera de alguém para roubá-lo ou de alguém (existe esse alguém?) que apareça para resgatar a peça para o museu (?!) de Santarém.
Assim como está abandonado o canhão pelo desprezo pela história, abandonados continuam hoje os descendentes dos guerreiros que tentaram mudar seu futuro, sem sucesso. É o que mostra a segunda foto. Se um artista do design gráfico fizer um trabalho de envelhecimento dessas imagens, poderá apresentá-las como sendo um desenho do tempo da Cabanagem. Mas não é. É de hoje, assim como era há 177 anos.
Essas casas ficam em Cuipiranga, do outro lado do Arapiuns, onde os cabanos resistiram ao exército do padre Antônio Feijó, então regente governante do Brasil. Daqui, os guerreiros, com mulheres e crianças, atravessaram o imenso rio, passaram por Vila Franca já perseguidos pelos militares, e caminharam cerca de 300 quilômetros pela mata, atravessando outros rios e igarapés até chegar a Pinhel, no médio Tapajós. Ainda resistiram, mas sucumbiram, por fim.
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