Por Telma Monteiro
Já deu para perceber que o governo brasileiro tem pressa. Pressa para implantar as usinas que ainda faltam para dar por finalizada a campanha de aproveitamento do chamado "potencial hidrelétrico" da Amazônia. Afinal, os lobbies da eólica e da solar já estão atrapalhando a estratégia das empreiteiras e da Abiape.
Abiape quer dizer Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia. Nomão desse no setor elétrico só pode significar apropriação e privatização dos recursos naturais. Vamos então saber o que a Abiape tem a ver com Belo Monte, com o Complexo Teles Pires e com as usinas do Tapajós. Sim, os consórcios responsáveis pelas usinas em construção têm associados da Abiape e as que ainda não sairam do papel já estão na mira deles.
O clubinho fechado da Abiape conta com as maiores empresas dos ramos da mineração, alumínio, siderurgia, papel e celulose e cimento. Alcoa, Gerdau, Odebrecht, Vale, CSN, Arcelor Mittal, Camargo Corrêa, Votorantim e MPX são as mais conhecidas. A participação da Abiape ou dos seus membros em capacidade instalada na matriz elétrica brasileira é de 24.370 MW.
As empresas desse pequeno e seleto grupo são chamadas de autoprodutores e produtores independentes de energia. Produzem ou produzirão energia apenas para seu próprio consumo e sua área de atuação envolve o setor energético brasileiro, o setor produtivo e o setor de investimentos em infraestrutura. Juntas são donas de 35 hidrelétricas, 18 termelétricas e 9 pequenas centrais hidrelétricas em operação. Têm 10% de Belo Monte, outras 5 hidrelétricas e 2 termelétricas em fase de projeto. Isso dá a dimensão do controle que a Abiape tem sobre o planejamento energético do governo e da política que o envolve.
Os autoprodutores compõem a chamada indústria energointensiva cuja filosofia é de que a posse da energia traz segurança ao suprimento. Para isso projetam um crescimento de 77,9% no seu consumo de energia elétrica até 2020. O presidente da Abiape, Mario Menel, em entrevista, lastimou a "burocracia" no processo de licenciamento de hidrelétricas e o não aproveitamento do imenso potencial hídrico do Brasil. Os associados da Abiape só se contentam com grandes hidrelétricas, deixou claro seu presidente.
No consórcio Norte Energia, responsável pela hidrelétrica Belo Monte, a Vale detém 9% das ações e a Sinobras 1%. A Odebrecht está presente na UHE Teles Pires e o presidente da ABIAPE requer que 10 a 20% da energia a ser gerada fiquem com as empresas para consumo próprio. A hidrelétrica Sinop, também no rio Teles Pires, é alvo da cobiça dos autoprodutores.
O projeto principal do Complexo Tapajós, a hidrelétrica São Luiz do Tapajós, está nas mãos da Camargo Corrêa que foi responsável pelos estudos de inventário da bacia do rio Tapajós. Agora, junto com a Eletronorte, a empreiteira elabora os estudos de viabilidade que serão entregues à ANEEL até 15 de maio de 2012.
Em parceria com associadas da Abiape, empresas internacionais também disputam a energia da Amazônia. Em dezembro de 2011, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) permitiu que a empresa francesa de energia Electricité de France S/A (EDF) fizesse parte do grupo de empresas que está elaborando estudos de viabilidade das hidrelétricas do Tapajós. A EDF tem interesse nas hidrelétricas São Luiz do Tapajós e Jatobá e nas usinas Jamanxim, Cachoeira do Caí e Cachoeira dos Patos, no rio Jamanxim.
O objetivo da Abiape é um só: gerar energia a qualquer custo.
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