A atriz paraense Edna de Cássia, como Iracema (ao centro), acompanha o Círio na corda: ficção e realidade (Foto: Reprodução)
Belém, 1974, em plena ditadura militar uma pequena equipe de cinema cobre a grande procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Era o tempo da abertura da Transamazônica, da implantação de grandes projetos e da introdução da pecuária extensiva, deixando o rastro da destruição socioambiental sem precedentes.
Misturada à multidão, a jovem Edna de Cássia encarna Iracema, protagonista da saga de tantas mulheres paraenses tragadas pelas ferozes engrenagens que massacram os mais pobres. Recém chegada do Marajó, Iracema será lançada na prostituição e, em seguida, percorrerá os sertões amazônicos na companhia do Tião Brasil Grande, na excepcional criação de Paulo César Pereio, um caminhoneiro cuja viagem desnudará as fraturas expostas do modelo de violência e expropriação que aqui se instalava com toda a força naqueles anos.
Iracema acompanhará o Círio como romeira. Irá na corda, descalça, integrada à maré de tantos rostos e tantas esperanças.
O filme Iracema, uma transa amazônica (1976) se tornou um clássico. Proibido no Brasil por anos, foi premiado no exterior e se tornou um clássico do cenema-verdade, onde ficção e documentário não possuem fronteiras visíveis.
Revistar o Círio de quase quatro décadas atrás revela a enorme força da tradição, entranhada na cultura e na mais profunda identidade do povo paraense.
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