Lanzarote, por sobre vulcões (aparentemente) adormecidos.
O relógio cravou: 11h30 de 18 de junho de ano da graça de 2010.
Neste exato momento, fez-se o silêncio.
O coração de José Saramago bateu pela última vez.
A vida, como se costuma ver, chegava ao fim. Ao fim?
Neste exato momento, às 11h30 ...
...Uma mulher fulminou com o olhar de fogo a mão do homem que estava prestes a espancar-lhe o rosto. A violência, como pão de cada dia, será expulsa porta afora...
...Os fonemas fizeram sentido e as palavras - dançantes e acrobatas - juntaram-se em um abraço total. Assim, mais um ser humano descobriu o milagre da leitura. O mundo - todo o mundo - seria seu daquele segundo em diante...
... Uma cerca - uma das tantas cortinas de ferro e de ódio - foi rompida. Por entre as brechas, surgiram bandeiras - vermelhas, verdes, brancas, multicores - anunciando que a humanidade não se vergará aos campos de concentração contemporâneos. Sem terra? Sem Pátria? Melhor se dirá: seres humanos, simplesmente.
... Uma criança, ilha esquecida na selva de pedra, limpou o rosto e ergueu o olhar para seu entorno de descaso e desamor. Daquele momento em diante, para nunca mais, ela não permitirá que lhe pisem os direitos. Será senhora de seu destino. Aquele mesmo destino luminoso que brilha nos olhos de um velho homem, que os médicos declararam morto, às 11h30, sobre sua cama de honradez e firmeza, em Lanzarote, por sobre vulcões (aparentemente) adormecidos.
Para ler a homenagem a Saramago, publicada em 18 de junho de 2010, "Tanto mar. Tanto mar", clique aqui.
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