A melhor campanha que já vi

Idéias Publicáveis da Jornalista Aletheia Vieira

Os assuntos estão se acumulando e eu não sei sobre o que escrever aqui no blog. Imaginei que iria ficar super envolvida com o período eleitoral, coisa que eu gosto muito desde criança. Só que, desculpem os colegas marketeiros, inclusive o Duda Mendonça. A campanha em Belém tá um saco.

Tem candidato usando dingle de duas campanhas atrás. Uma música da Banda Calypso, que ninguém nem mais canta. Outra candidata resolveu usar uma versão da canção "Angélica" do Chico Buarque. Foi feita em homenagem a estilista Zuzu Angel, que teve o filho morto durante da Ditadura Militar. A música retrata não só a agonia de Zuzu, como um momento importante na História do Brasil. Não tem espaço numa campanha cheia de promessas que não serão cumpridas.

A última campanha que prestou em Belém aconteceu em 1996. O Hélio Gueiros (na época ultra, mega, super adversário de Jader Barbalho) era o prefeito. Como ainda não tinha reeleição e ele lançou um dos seus secretários como candidato, o Ramiro Bentes. Concorriam com ele, a dona Elcione Barbalho (PMDB), Edmilson Rodrigues (PT), o ainda desconhecido Duciomar Costa e outros.

Ramiro estava em primeiro nas pesquisas. Elcione em segundo. Eu lembro até de alguns dingles. "Ramiro é, Ramiro é 12! É o melhor para Belém. A caminhada continua e a cidade fica bem"... Eu tinha 12 anos, doida pra votar e não podia. Meu candidato era o Ramiro, eu era de "direita".

Só que lá pelo meio do propaganda eleitoral, tocava uma música. "Agora, eu já sei o que fazer... Sou desta terra e meu destino é viver... Com minhas mãos quero fazer mudar... A gente quer uma cidade feliz, com Edmilson boto fé no que virá". O programa dele era curto, sem recursos, numa época em que o PT estava sonhando com o poder, sem ter como chegar lá.

O Edmilson me incomodava. Começou a me dar vontade de "votar" nele, de ser do PT. Mas eu não podia. Minha mãe nunca aceitaria, nem meu pai... eles foram criados sob as vestes da ditadura. Achavam que esse negócio de vermelho era pra comunista.

Um dia, o Edmilson foi lá no colégio. Ele iria apresentar suas propostas só para o pessoal do Ensino Médio. O povo de 5a a 8a se revoltou. Fizemos quase um motim para vê-lo. Então, ele resolveu discursar na quadra do colégio. Nunca em oito anos tinha visto aquela quadra silenciosa, nem em missa, como na hora em que o Edmilson começou a falar. Pensei comigo: "alguma coisa vai acontecer e esse cara vai ser o prefeito". E aconteceu.

Uma briga entre o Jader e o Ramiro. Não lembro quem começou a provocação, acho que o Ramiro, porque o Hélio e o Jader não se "batiam". Se teve uma coisa que aprendi nesses meus 24 anos de vida, é que Jader Barbalho não dá ponto sem nó. Ele não engoliu. Pôxa, se não engoliu o ACM, imagine o Ramiro...

A dona Elcione começou a cair nas pesquisas. O Ramiro também. O segundo turno ainda era entre os dois. Mas, na última semana, o Edmilson já estava lá, lindo, em primeiro, com 29% das intenções de voto. Meu pai e minha mãe ficaram incrédulos. "Como esse menino pôde derrotar o Jader? Ninguém derrota o Jader". Talvez, com todo respeito que tenho por ele, que é o pai do meu chefe, Jader tenha perdido para ele mesmo naquela campanha. Isso nunca mais aconteceu. Nunca mais mesmo.

A festa do Edmilson foi linda. Eu comemorei em silêncio, ouvindo "Tempo Perdido" da Legião Urbana. Senti que depois do massacre dos sem-terra em Eldorado dos Carajás, o Pará poderia acordar com a vitória do PT em Belém. E aí só faltava o Brasil também acordar e eleger o Lula. Mas isso é outra história.