quinta-feira, 13 de maio de 2010

Chame o ladrão!

“É a dura / numa muito escura viatura / minha nossa santa criatura / chame lá! / Chame o ladrão! / Chame o ladrão!”
É o que diz a letra de “Acorda amor”, samba do atormentado Julinho da Adelaide.
Julinho foi um pseudônimo com que, nos anos 1970, Chico Buarque tentou driblar o truculento Departamento de Censura e Diversões Públicas da Polícia Federal, que tinha ordens para detonar o que quer que fosse feito por ele. Vai daí que, no samba, Chico/Julinho pedia, aflito, a presença do ladrão... para protegê-lo da polícia.
Hoje, alguma coisa mudou. A censura acabou e a “dura” já não anda mais em escuras viaturas. Agora os carros são brancos (se bem que, em vários Estados – Pará inclusive – os cavernosos carros pretos estão voltando). Mas o pavor que ela provoca nos cidadãos continua, firme e forte. A sensação de insegurança e desamparo permaneceu, e até aumentou, como confirmam alguns comentários postados neste blog, na última semana.
Vale observar que violência e medo provocado pela sensação de insegurança são, ao mesmo tempo, problemas de caráter estrutural, manifestações de perversidades inerentes ao modo de produção capitalista e tendentes a crescer na medida em que se aprofundam os mecanismos de acumulação ampliada do capital nesta fase de globalização neoliberal.
A violência e sua "irmã siamesa", que chamo de síndrome da insegurança, criam as condições mais favoráveis para o exercício, pela "minoria próspera", do controle político e ideológico da sociedade, em desserviço da "maioria inquieta".
O que fazer?
Publicado em 7 de novembro de 2005 no Luzes da Floresta

Um comentário:

  1. cinco anos se passaram e a síndrome da insegurança tornou-se uma epidemia.

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