sexta-feira, 23 de abril de 2010

Nós, indígenas do Xingu, não queremos Belo Monte

Por Cacique Bet Kamati Kayapó, Cacique Raoni Kayapó Yakareti Juruna

Nós, indígenas do Xingu, estamos aqui brigando pelo nosso povo, pelas nossas terras, mas lutamos também pelo futuro do mundo

O presidente Lula disse na semana passada que ele se preocupa com os índios e com a Amazônia, e que não quer ONGs internacionais falando contra Belo Monte. Nós não somos ONGs internacionais.

Nós, 62 lideranças indígenas das aldeias Bacajá, Mrotidjam, Kararaô, Terra-Wanga, Boa Vista Km 17, Tukamã, Kapoto, Moikarako, Aykre, Kiketrum, Potikro, Tukaia, Mentutire, Omekrankum, Cakamkubem e Pokaimone, já sofremos muitas invasões e ameaças. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, nós índios já estávamos aqui e muitos morreram e perderam enormes territórios, perdemos muitos dos direitos que tínhamos, muitos perderam parte de suas culturas e outros povos sumiram completamente. Nosso açougue é o mato, nosso mercado é o rio. Não queremos mais que mexam nos rios do Xingu e nem ameacem mais nossas aldeias e nossas crianças, que vão crescer com nossa cultura.

Não aceitamos a hidrelétrica de Belo Monte porque entendemos que a usina só vai trazer mais destruição para nossa região. Não estamos pensando só no local onde querem construir a barragem, mas em toda a destruição que a barragem pode trazer no futuro: mais empresas, mais fazendas, mais invasões de terra, mais conflitos e mais barragem depois. Do jeito que o homem branco está fazendo, tudo será destruído muito rápido. Nós perguntamos: o que mais o governo quer? Pra que mais energia com tanta destruição?

Já fizemos muitas reuniões e grandes encontros contra Belo Monte, como em 1989 e 2008 em Altamira-PA, e em 2009 na Aldeia Piaraçu, nas quais muitas das lideranças daqui estiveram presentes. Já falamos pessoalmente para o presidente Lula que não queremos essa barragem, e ele nos prometeu que essa usina não seria enfiada goela abaixo. Já falamos também com a Eletronorte e Eletrobrás, com a Funai e com o Ibama. Já alertamos o governo que se essa barragem acontecer, vai ter guerra. O Governo não entendeu nosso recado e desafiou os povos indígenas de novo, falando que vai construir a barragem de qualquer jeito. Quando o presidente Lula fala isso, mostra que pouco está se importando com o que os povos indígenas falam, e que não conhece os nossos direitos. Um exemplo dessa falta de respeito é marcar o leilão de Belo Monte na semana dos povos indígenas.

Por isso nós, povos indígenas da região do Xingu, convidamos de novo o James Cameron e sua equipe, representantes do Movimento Xingu Vivo para Sempre (como o movimento de mulheres, ISA e CIMI, Amazon Watch e outras organizações). Queremos que nos ajudem a levar o nosso recado para o mundo inteiro e para os brasileiros, que ainda não conhecem e que não sabem o que está acontecendo no Xingu. Fizemos esse convite porque vemos que tem gente de muitos lugares do Brasil e estrangeiros que querem ajudar a proteger os povos indígenas e os territórios de nossos povos. Essas pessoas são muito bem-vindas entre nós.

Nós estamos aqui brigando pelo nosso povo, pelas nossas terras, pelas nossas florestas, pelos nossos rios, pelos nossos filhos e em honra aos nossos antepassados. Lutamos também pelo futuro do mundo, pois sabemos que essas florestas trazem benefícios não só para os índios, mas para o povo do Brasil e do mundo inteiro. Sabemos também que sem essas florestas, muitos povos irão sofrer muito mais, pois já estão sofrendo com o que já foi destruído até agora. Pois tudo está ligado, como o sangue que une uma família.

O mundo tem que saber o que está acontecendo aqui, perceber que destruindo as florestas e povos indígenas, estarão destruindo o mundo inteiro. Por isso não queremos Belo Monte. Belo Monte representa a destruição de nosso povo.

Para encerrar, dizemos que estamos prontos, fortes, duros para lutar, e lembramos de um pedaço de uma carta que um parente indígena americano falou para o presidente deles muito tempo atrás: " Só quando o homem branco destruir a floresta, matar todos os peixes, matar todos os animais e acabar com todos os rios, é que vão perceber que ninguém come dinheiro " .

Cacique Bet Kamati Kayapó, Cacique Raoni Kayapó Yakareti Juruna, representando 62 lideranças indígenas da Bacia do Xingu.

5 comentários:

  1. E A POPULAÇÃO QUE SERÁ BENEFICIADA PELA USINA DE BELO MONTE, OS EMPREGOS QUE SERÃO GERADOS, NÃO DEVEMOS LEVAR EM CONTA?

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  2. A arrogância, a estupidez e a ignorância, enchem a imaginação de domínio.
    Benefício? Emprego? Papai noel também ?
    Guerra à usina! Viva a vida e o Xingu!

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  3. Ao anônimo que acredita nos supostos benefícios de Belo Monte,
    Com todo o respeito, não custa lembrar que um dos questionamentos do MPF ao licenciamento da obra se baseia nos pareceres do próprio Ibama alegando que o EIA/RIMA não esclarece o impacto migratório que o projeto vai causar. Os cientistas prevêem que pelo menos 100 mil pessoas pobres de outras regiões irão se deslocar para Altamira. Ora, todos os 11 municípios atingidos pelo projeto têm juntos 300 mil habitantes. É impossível crer que o projeto vá criar empregos para os desempregados atuais desses municípios e mais 100 mil empregos, moradia, escola, hospitais, etc. para os seres humanos pobres que também estão sendo iludidos pelo discurso de que Belo MOnte vai servir para o povo. Só vai servir às grandes empresas que exportam sem pagar impostos nossas riquezas naturais e produtos como o alumínio, com alto conteúdo energético, a preço vil, à custa da degradação do meio geográfico e das condições de vida do povo.
    Edmilson Rodrigues

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  4. Essa usina, só vai trazer destruição e guerra contra os povos indígenas, desse jeito o homem branco cada vez mais quer destruir,cada dia mais a Amazônia ta sendo destruída pelos homens, deguinos a que lhes homens que preservam a natureza e lutam por ela.

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  5. Basta de dor. Lembremo-nos de Itaipu quando desalojou 8 mil famílias. Em nome do progresso e desenvolvimento capitalista a humanidade foi desdenhada. Modos de vida alterados, identidades perdidas, laços de amizade e parentesco quebrados. O impacto negativo de Itaipu permanece na memória e vivência daqueles que foram atingidos.
    Os povos indígenas têm o direito de permanecerem em sua reserva, pois com ela têm um vínculo afetivo profundo que não poderá de forma alguma ser reparado.

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