sexta-feira, 20 de agosto de 2010

É mais importante gerar energia para abastecer o Grande Capital ou zelar pela saúde e qualidade de vida das pessoas?

HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA: UMA REFLEXÃO
por Enilson da Silva Sousa

Em poucas palavras podemos traçar uma linha do tempo na história da ocupação européia na Amazônia. No séc. XVII (1.616) é fincado à ponta de lança da ocupação da Amazônia brasileira com a fundação do Forte do Presépio, dando origem a cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, capital estado.

Passaram-se alguns séculos e pouca coisa mudou no sentido da expropriação e pilhagem que a região passa, onde as maiores vítimas são os Índios, as populações tradicionais e o ambiente todo.

A construção de mega UH's, na bacia do rio Amazonas nada mais é que o continuísmo desses desmandos estatal, que se apresenta pouco preocupados com as conseqüências de tais ações arbitrárias, levando em conta apenas a necessidade por energia dos grandes projetos amazônicos e do centrosul do país.

Vários são os problemas apresentados por pesquisadores com o advento de uma Grande Usina na região amazônica, um deles que está sendo estudo com mais critério, é a contaminação por mercúrio presente em solos hidromórficos encontrados em vários pontos da bacia.

O mercúrio entra na cadeia alimentar, através pescado, base de proteína da população local, especialmente a traíra (Hoplias spp.) e o tucunaré (Cichla sp.), peixes muito apreciados pelos tapuios e indígenas. Estes exemplares são carnívoros e estão mais acima na cadeia alimentar, daí suas importância nesse contexto.

Agora vejamos a construção de hidrelétricas leva necessariamente a criação de grandes lagos de água parada, ambiente ideal para a proliferação de tucunaré, que associados a solos hidromórficos pode ser uma combinação perigosa e insustentável a vida humana na região. O mercúrio no estado de metil mercúrio (MeHg) pode até matar uma pessoa, entre outros sintomas menos danosos.

A pergunta é: é mais importante gerar energia para abastecer o Grande Capital ou zelar pela saúde e qualidade de vida das pessoas que vivem nas interland do quaternário norte desse país?

Professor Enilson da Silva Sousa, Professor Efetivo da UFOPA, Programa de Geografia, doutorando em Ciências Ambientais na Universidade Federal de Goiás - UFG (Goiânia-Go).

Outros textos do Professor Enilson Sousa você encontra no PAPO CABEÇA - SANTARÉM

Um comentário:

  1. Um pouco de Amazônia e Amazônidas

    Com mais de sete milhões de quilômetros quadrados de cobertura, a floresta tropical localizada ao norte da América do Sul, abrange mais de cinqüenta por centro do território brasileiro, a Hiléia Amazônica, outrora inferno verde, sempre foi palco de muita cobiça do homem e pelo homem.

    Nos séculos XVII e XVIII, foram as chamadas Drogas do Sertão a mola propulsora responsável pela ocupação da região mais setentrional do Brasil. Foi esse momento também, o grande responsável pela ocupação da calha do rio Amazonas e seus principais afluentes, é a ocupação portuguesa na beira do rio, com as famosas e muita vezes famigeradas missões religiosas e a geopolítica da forteficação que garantiria a posse do território a união ibérica inspirado na política do uti possidetes.

    Nesse momento o massacre, porque não dizer o etnogenocídio dos povos indígenas irá ocorrer de forma assustadora e deplorável, não que nunca mais tenha ocorrido tal matança na história macabra e muitas vezes não contada do Brasil, porém, esse é o divortium aquarium para os povos ameríndios brasileiros, entre a sobrevivência e o extermínio sócio-cultural de um cem números de povos.

    Por volta dos séculos XIX e XX mais uma vez os olhas da ganância e da cobiça do imperialismo mundial volta-se para região em busca agora, do ouro branco, era a vez da hervea brasiliense dar sua contribuição para o enriquecimento amoral e ilícito das oligarquias amazônidas que por aqui habitavam, pois apesar das ostentações faraônicas da arquitetura barroca, neoclássica e rococó que implementaram, nas capitais de Belém e Manaus, em nenhum momento os tapuinhos puderam gozar, talvez até no sentido literal da palavra, de uma cena se quer dos grandes espetáculos e da vida moderna que por aqui aportava.

    No entanto somente a partir da década de 1950, a Amazônia brasileira irá ser vítima voraz do capital transnacional e hologopolizado, especialmente da indústria automobilística, de uma forma tão cruel e sanguinária. A abertura de grandes rodovias como a Belém-Brasília fincam no coração da floresta a lança e a bandeira do aqui tudo pode. Os grandes projetos agropastoris e minerais tomam conta e somam-se aos vorazes expropriadores latifundiários, oligarcas que herdam da belle epoque um aleijamento cultural do mix que se formava a população cabocla Amazônica.

    Com a chegada das décadas de 1970 e 1980, em especial, devido à implantação do Programa Grande Carajás – PGC se concretiza e consolida-se a entrega das riquezas nacionais que se encontravam nas entranhas da floresta. Com a política do integrar para não entregar, idealizada pelo regime militar chegam aos milhares, nordestinos em busca de uma nova vida e enganadas pelos seus governantes, soma-se a eles, sulista no sul do Pará e alguns outros pontos. É o caldeirão cultural que se transforma a Amazônia, em especial o estado do Pará.

    O Oeste e o sul do Pará, que lutam hoje pela criação de unidades políticas independentes representam de forma impar a perda de identidade do povo paraense. É preciso que nesta eleição possamos escolher representantes de fato comprometidos com a verdade, a ética e o sentido de SER amazônida, não apenas pelo lugar onde nascemos, mas, pelo lugar onde escolhemos para viver e construirmos nossa história e de nossa herança genética.

    Para refletir: “(...) coberta por 40mil espécies de plantas - sendo 30 mil delas endêmicas, ou seja, que só existem ali - e onde se encontra ¹/3 (um terço) de toda a água doce do planeta. (...) tal região concentra a maior biodiversidade do mundo e riquezas minerais em seu solo.” - Revista super interessante:edição 185. fevereiro de 2003.

    Professor Enilson da Silva Sousa
    Geógrafo - Mestre em Geociências,
    Doutorando Ciências Ambientais - UFG / Goiânia-Go
    Professor Efetivo da UFOPA - Programa de Geografia

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