segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Anapu

A reportagem é de Carlos Mendes e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 23-01-2011.

O clima tenso já dura mais de uma semana na região do assentamento, implantado pela missionária Dorothy Stang, morta a tiros em 2005. No último dia 14, as famílias de agricultores fecharam a estrada que dá acesso à área do projeto, depois que vários caminhões carregados de madeira foram vistos saindo do local. Com medo de confronto, a polícia reforçou o efetivo na região.

A rodovia começou a ser liberada na própria sexta-feira, depois de longa negociação dos representantes dos madeireiros com homens da Polícia Rodoviária Federal e agentes da PF.

Negócio

De acordo com os assentados, os madeireiros infiltraram 30 famílias no projeto e pagam R$ 70 por metro cúbico de espécies de madeira como virola e jatobá retiradas da área. No mercado, a venda dessas duas espécies chega a R$ 650 o metro cúbico.

O negócio cresceu tanto que até o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, Luís Sena, virou um combativo defensor da derrubada da floresta, ao lado do prefeito do município Francisco de Assis Souza, o Chiquinho do PT.

Contrários à exploração de madeira, a maioria dos assentados do projeto pediu ajuda ao Incra, sugerindo a construção de guaritas de vigilância na estrada de acesso ao projeto para impedir a entrada dos caminhões das madeireiras.

Já os madeireiros exigem a expulsão do padre Amaro Lopes e das missionárias Jane Dwyer e Katia Webster do assentamento, alegando que os três incitam os assentados e prejudicam o desenvolvimento do município.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) acusa os madeireiros de devastar a região, ameaçar trabalhadores e promover a violência. O ouvidor agrário nacional, Gersino Silva Filho, estará em Anapu no próximo dia 25, terça-feira, para ouvir as reivindicações dos assentados.

Homens da Força Nacional de Segurança, enviados para a cidade em atendimento de pedido do Ministério do Desenvolvimento Agrário, devem ficar na região pelos próximos 20 dias.

PARA LEMBRAR

A missionária americana Dorothy Stang foi assassinada no dia 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos. Irmã Dorothy, como era conhecida, foi responsável pela criação do primeiro programa de desenvolvimento sustentado da Amazônia, destinado a uma comunidade de 600 agricultores em Anapu. Com o projeto, vários fazendeiros e madeireiros tiveram suas terras confiscadas pelo Incra. Ela chegou a denunciar as ameaças que sofria desses fazendeiros e madeireiros. Acabou morta com seis tiros, um na cabeça e cinco ao redor do corpo, numa estrada de terra.

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